O contexto do Golpe

Golpe de 64: Maria Tereza Goulart e o preseidente João Goulart no comício da Central do Brasil. 13 de março de 1964. CPDocJB/Folhapress

Quando o presidente da República, Jânio Quadros, renunciou, em 1961, o Brasil atravessava um momento de polarização. Herdeiro político de Getúlio Vargas e vinculado ao movimento sindical, o vice João Goulart era visto com maus olhos pelos setores conservadores da sociedade, que o consideravam “comunista”. Não se pode esquecer que, no âmbito internacional, a Guerra Fria, que opunha os Estados Unidos da América (EUA) à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), acirrara-se com a Revolução Cubana de 1959, intensificando o antagonismo entre capitalismo e comunismo. Assim, após a renúncia de Jânio, os ministros militares tentaram impedir a posse de João Goulart. Somente com uma ampla negociação de forças políticas, “Jango” assumiu a Presidência sob o regime parlamentarista.

Para os trabalhadores, aquele era um momento de protagonismo, com a organização de campanhas nacionais pela posse de João Goulart, pelo retorno do presidencialismo, pelas reformas de base, contra a carestia e pela defesa do décimo terceiro salário. A mobilização operária adquiriu mais força com a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), em 1962, que passou a articular essas campanhas pelo país.

O abono de Natal

"Jango, categorico, em S. Bernardo do Campo: Ninguem impedirá as reformas que já amadurecem no coração do povo". Manchete de edição do Jornal Diário da Noite de
21 de agosto de 1963. Acervo Fundação Biblioteca Nacional​

Em outubro de 1963, milhares de trabalhadores de São Paulo desencadearam a “Greve dos 700 mil”, que congregou as principais categorias sindicais na luta por direitos e por novas conquistas para os trabalhadores. O movimento teve início na capital, mas logo se espalhou pelo interior, paralisando 90% dos metalúrgicos e 60% dos têxteis. Um dos fios condutores dessa greve foi o Abono de Natal (o décimo terceiro salário), uma exigência antiga do movimento operário, que vinha adquirindo força nos últimos anos e estava na pauta do parlamento.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo aderiu à campanha e as fábricas da região pararam no dia 14 de dezembro. Em passeata, os trabalhadores se dirigiram à Câmara Municipal, onde obtiveram o apoio de parte dos vereadores. Diversos sindicatos do ABC paulista remeteram petições ao Congresso Nacional, apoiando o projeto de lei. No entanto, era grande a resistência do parlamento e do empresariado.

Os movimentos por reivindicações sociais – como reforma agrária, moradia urbana, expansão dos direitos trabalhistas – tomaram grandes proporções. Paralelamente, as classes dirigentes estavam insatisfeitas em relação ao Governo Jango. Somava-se a esses processos a pressão ideológica da Guerra Fria. Uma intervenção para silenciar organizações sociais cada vez mais fortalecidas passou a ser um perigo iminente.

O golpe nos trabalhadores

Autor do texto original do projeto:

Paulo Fontes