A implantação das primeiras indústrias têxteis no ABC se deu entre 1910 e 1920. Até a construção da Via Anchieta, no final dos anos 1940, foi essa a atividade que marcou a economia da região. Alguns municípios foram fundados e se organizaram em torno da atividade têxtil.

A presença da mulher neste setor sempre foi significativa, não só no ABC, como também em outros pólos produtivos, como o bairro do Brás, na capital paulista. Na realidade, o recrutamento feminino era uma tendência mundial, desde as primeiras indústrias de tecelagem na Inglaterra. A leveza e o fácil manuseio da matéria-prima serviam como argumentos das companhias para empregarem mulheres.

Um dos resultados foi que, em outubro de 1944, 35 mulheres participam da fundação da Associação Profissional dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de São Bernardo. O Sindicato recebeu sua carta de reconhecimento em 1947, com 90% de adesões de mulheres, quase todas solteiras, com idade média em torno de 21 anos.

Mesmo assim, algumas funções eram exercidas por homens e por um grande número de crianças. As fábricas absorviam uma mão-de-obra que provinha, em sua maioria, do campo. Desta forma, empregavam uma força de trabalho com salários baixos, que eram compensados por benefícios como a possibilidade de a família permanecer unida na fábrica, com empregos para diferentes membros, e pela oferta de pequenos lotes de terra para o roçado.

A tecelagem foi central na formação da classe operária no Brasil. Além de promover a proletarização dos trabalhadores do campo, foi importante para a criação de espaços e vivências compartilhados pelos trabalhadores, que permitiram a identificação e a interação com os outros no cotidiano. As fábricas funcionavam como centros de sociabilidade, para além do ambiente de trabalho; as vilas que se construíram ao seu redor abrigavam organizações culturais, como clubes de futebol, bandas de música, casas de dança, escolas, agremiações religiosas e políticas.

A indústria têxtil brasileira se tornou uma fornecedora importante no mercado internacional, em particular para a Europa, destruída pela guerra. Porém, um momento dramático foi vivido entre as décadas de 1970 e 80, com o fechamento de pelo menos 50 unidades fabris, o que reduziu o peso do setor na economia nacional.

Autores dos textos originais do projeto

Ademir Médici
José Sérgio Leite Lopes

Vídeo - Costura

Curiosidades

A Cia. de Tecidos Paulista de PE, foi certamente uma das maiores do Brasil nos anos 40. As estimativas oscilam entre 10 e 15 mil trabalhadores (com carteira de trabalho ou incluindo os clandestinos).

Uma das mais antigas fábricas de tecido que permanece em atividade é a Rhodia Têxtil, inaugurada em 1929. Também resiste a marca Tognato (cobertores), cujos fundadores trabalharam como operários na pioneira Ipiranguinha, já extinta.

A presença da “moça tecelã” na paisagem urbana da primeira metade do século XX pode ser sentida através da música popular e da poesia, como na canção de Noel Rosa a respeito do apito da fábrica e o poema Tecelã, de Mauro Mota.

“Antigamente a criança com sete anos de idade já trabalhava e eu então lecionava para eles cerca de uma hora e meia, todos os dias” (1911). ― (Depoimento dado pela filha do diretor da Tecelagem Ipiranguinha, que produzia chita, publicado pelo Diário do Grande ABC no Dia do Professor de 1974).
 

Trechos extraídos de texto elaborado por Ademir Médici, especialmente para o projeto.